É interessante observar como caminhamos diariamente por nossa cidade, olhando apenas para o chão. Esquecemos que os prédios, monumentos e edificações contam um pouco de nós e de nossa história. Mas, se a história impressa no concreto das ruas da metrópole não nos toca a pele, talvez devamos refletir sobre algo com o qual lidamos diariamente: as roupas. Sim, a história também está tecida no que vestimos!
Imagine que estas ruas pelas quais caminhamos hoje, no centro do Rio, já foram palco de uma grande transformação. A consolidação da República, em 1889 e o início do surto industrial modificaram a rotina e as retinas da então capital do país. Era preciso, então, apagar da memória do povo qualquer traço que remetesse ao passado escravocrata. Era necessário “aburguesar” a capital segundo moldes franceses.
O Rio de Janeiro, ainda uma pequena cidade, tinha apenas 600 mil habitantes no ano de 1900. A cidade não tinha nada de maravilhosa: as ruelas eram estreitas e sujas, mal iluminadas, ex-escravos circulavam relegados à própria sorte, já que a escravidão havia sido abolida sem que eles fossem incluídos na sociedade e o fantasma da varíola, peste bubônica e febre amarela assombravam a Capital.
Influenciado pelas reformas empreendidas por Haussman, prefeito de Paris entre 1851 e 1870, o engenheiro Pereira Passos, no governo de Rodrigues Alves, empreendeu a “europeização” do Rio de Janeiro, que seria a “Paris dos Trópicos”. A modernização do Rio de Janeiro teve início em 1902, quando foram convocados Francisco Bicalho e Paulo de Frontin para a construção de um novo porto e o traçado da nova Avenida Central (atual Rio Branco), respectivamente.
Logo uma cidade tomada por epidemias de ruas imundas e insalubres iria dar lugar a uma metrópole saudável, cheia de luz, com largas avenidas e prédios modernos. Depois do "bota-abaixo", Pereira Passos ergueu uma nova metrópole "que mais parecia um pedaço da Europa", uma Paris nos trópicos.
As avenidas foram alargadas, a população pobre foi expulsa do centro, área que, agora, seria destinada apenas aos que tinham alto poder aquisitivo. Ex- escravos, ex-combatentes de guerras, libertos e órfãos passaram a integrar a massa de moradores nas favelas, que nasciam, nas encostas dos morros, enquanto o samba de roda dava seus primeiros passos no Estácio.
Enquanto isso, as sinhás se intitulavam mademoiselles e queriam consumir a moda que vinha da capital francesa, importando artigos de luxo. Os ex-escravos que haviam sido alforriados poderiam, pela primeira vez, usar calçados, marca da liberdade. Somente calçados poderiam caminhar pelas elegantes ruas do centro da “Paris dos Trópicos”.
Fumar, usar chapéu e luva tornaram-se hábitos freqüentes entre as damas da alta burguesia. E para sentirmos como toda esta história nos traz até os dias de hoje, basta pensar que foi somente em 1899 que a francesa Herminie Cadolle cortou seu espartilho na parte superior, dando origem ao famoso sutiã, peça indispensável no guarda – roupa feminino. Era, assim, o início da diferenciação entre a moda masculina e feminina, um fato que entrou para a história, na chamada Belle Epóque, período que vai do fim do século XIX ao início da Primeira Guerra Mundial.
As mulheres mais ricas utilizavam roupas que chegavam de Paris, desde espartilhos, luvas, meias e chapéus. O exagero e ostentação eram as normas. O sucesso das peças com plissados e volumes excessivos vem desta época.
Outra tendência atual também originária neste período foi o uso de pérolas, blusa de golas altas e com babados, além das botas. Outra inovação foi o aparecimento do tailleur, composto por saia justa e casaco do mesmo tecido, além do clássico penteado em coque, o que se assemelha ao eterno visual elegante das peças de alfaiataria.
Crédito:
Isabela Pimentel
Colaboradora
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